sexta-feira, 19 de março de 2010

Aventuras futebolísticas do Felipão do Estanhado

Antônio Rocha já foi um pouco de muita coisa.

Já empunhou uma batuta, dando ordem e ritmo aos desfiles de 7 de Setembro. Também comandou caravanas de alunos pelo Piauí afora e até mesmo à frente de um time de beatos. Estranho, né? Logo o Dr. Antonio, que nunca foi chegado a padres e a rezas.

Pois é verdade: ele se meteu numa Kombi com um tanto de gente – o padre José Gonzalez Alonso à frente – e se mandou para Salvador, ver de perto a posse de Dom Avelar como arcebispo primaz do Brasil. Ele não gostava de muitos padres, mas gostava muitos de uns poucos sacerdotes, entre eles o mesmo padre (agora bispo) José e Dom Avelar.

Sim, Antonio Rocha também sempre foi metido a fazer festas. Nos dias de hoje, seriam um promoter. As mangueiras do sítio da família, em União, são testemunhas vivas e podadas de tantas furupas regadas a batida de limão ou maracujá, feitas pelo próprio anfitrião.

Também foi dentista um montão de ano e professor a vida toda, até se aposentar de vez – por obra da vista curta – já passado dos 70 anos. Mas essas facetas são conhecidas: fazem parte do currículo oficial.

O que pouca gente sabe mesmo é que Dr. Antonio também enveredou pelos campos futebolístico, como técnico. Uma espécie de Felipão do Estanhado.

Rocha Júnior, o sexto filho da larga prole, lembra de uma grande partida em que Dr. Antonio colocou em prática os seus conhecimentos futebolísticos. Era inicio dos anos 1970, quanto ele convidou o filho para acompanhá-lo até Porto, quando União enfrentaria a seleção local.

A viagem começou no próprio domingo, dia do jogo, bem cedo da manhã. Era uma total integração: jogadores e torcida, todos juntinhos e apertados, seguiam sentados no piso da carroceria de um caminhão. Na boléia, o motorista e o meticuloso técnico Antônio Rocha. A bem da verdade, olhando para aquela gente ajuntada na carroceria, parecia mais uma ruma de romeiros que delegação esportiva. Inclusive porque, apesar da viagem aparentemente dolorosa, todos mostravam uma enorme felicidade.

O embate entre as duas cidades foi intermediado pelo Antenor Fortes, portuense que passou a morar à época em União, onde também tinha raízes familiares. Ele era um bom jogador e atuaria por Porto. Rocha Júnior não recorda qual foi o critério da seleção dos jogadores unionenses, mas lembra que entre eles estava o Duílio, primogênito do Antônio Rocha, que estudava em Fortaleza e passava férias com a família.

O jogo então começou.
União atuava com camisas amarelas e Porto com uniforme semelhante ao número 1 do River de Teresina – ou do São Paulo, se preferirem.

Duílio ficou no banco, à espera das ordens do duplamente professor Antônio Rocha. A peleja estava disputadíssima. Perto do final do jogo, o placar estava 3x3. Foi quando o árbitro, caseiro, anotou pênalti contra, obviamente, o selecionado de União. O Antenor foi lá e marcou o gol da vitória portuense.

E quanto ao Duílio?
Bem, o nosso técnico ordenou que ele entrasse na primeira metade do segundo tempo. Duílio atuava na lateral e constantemente apoiava o ataque. Antônio Rocha insistia para que ele permanecesse na defesa. E Duílio continuava apoiando o ataque. Diante da desobediência tática do elegante lateral, Antônio Rocha ia se irritando, e mais se irritando, até que chamou o craque na família Rocha à borda do campo e esbravejou:

– Rapazinho, onde você já viu lateral subir ao ataque? Você é maluco?

Por mais que o rapaz explicasse que a seleção brasileira já fazia isso há muito tempo, e dado como exemplo o escrete de 1970, quando o capitão Carlos Alberto fez até gol – o quarto na vitória de 4x1 sobre a Itália, no final da Copa – não teve jeito. Duílio foi sacado do time, e do banco viu, resignadamente e sem poder fazer mais nada, a derrota da gloriosa seleção de União.

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2 comentários:

  1. Lembro-me de ter participado de algumas dessas furupas naquelas mangueiras; e quão maravilhosas eram! De memória curta, são poucas as recordações guardadas, mas das mangas do Dr. Antônio, e da cajuína de D. Irene, ainda sinto o sabor...

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  2. Lembro muito bem quando iamos tomar vinho debaixo das mangueiras, uma geladinha,e Antonio Rocha perguntava,a Socorro Viana sabe q vc esta aki?eu falava q sim, entao ele dizia vou comprar umas piabinha pra tira-gosto.ô tempo bom...

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