domingo, 28 de fevereiro de 2010

Antonio Rocha e o 7 de Setembro


Aderson de Castro Soares Neto.
É um nome comprido. Mas, resumido, tem um tanto de poesia: Aderson Neto, ou Adersoneto, como ele registrou no e-mail.
Hoje, exatamente hoje, ele está de passeio por Espanha. Mas trabalha mesmo na Avenida Paulista, bem representanto o Piauí, lidando com dinheiro dos outros no pedaço mais rico do Brasil.
Pena que o dinheiro seja do BB e dos empresários depositantes.
Mas, independente do saldo bancário do Aderson, ele é um dos que sempre teve uma atenção especial com a memória de União. E aí está um texto dele, a propósito do 7 de Setembro no Velho Estanhado.

Quem foi aluno do Ginásio Estadual Felinto Rego (depois modificado para Unidade Escolar) nos idos da primeira metade da década de 1970 jamais poderá esquecer os desfiles de 7 de Setembro!

Cada um dos saudosistas que agora nos lêem tem o direito de denominar de Semana da Pátria, Parada de 7 de Setembro, Desfile da Independência do Brasil, o que quiser. O que não posso é dar o direito a esses contemporâneos de esquecerem o zelo, a determinação e a importância que o nosso Doutor Antonio Rocha dava ao evento.

Lembrança imediata: ele com sua indefectível mão alisando o queixo enquanto media as – duras – palavras que ia dirigir aos incautos que marchavam fora do compasso ou que se lhe dirigiam com um dos pés numa sandália havaiana (ou japonesa, lembram?) e o dedão enrolado em esparadrapo!

Milagre seria não ouvir um “olha aqui, rapazinho, o senhor agora está doente para marchar, mas não estava para fazer danações pelos corredores do ginásio”...
A salvação era um atestado médico do Doutor Felinto ou então podia aguardar uma suspensão com outra frase fatal: “o senhor tem três dias para ficar refletindo em casa!”.

Doutor Antonio tinha outra característica fantástica para a Escola da época – era um precursor do ensino interativo: como esquecer as aulas na biblioteca diante do globo terrestre onde o aluno 'via' os países que ele descrevia com tanta propriedade?

Quando tinha prova oral já se esperava a pergunta com o coração na boca: 'Senhor fulano: onde fica a Rússia e quais os seus principais produtos agrícolas?' Se o rapazinho fosse com o dedo indicador rumo a outro continente, desse um passeio pela América ou tremesse as mãos rumo à África, podia esperar um sonoro “pode sentar” sem maiores explicações. E a nota? Ai de quem ousasse perguntar!

Mas o tempo realmente é o senhor da razão – como bem disse o filósofo. Passados os anos e hoje investido na relevante função de professor é que percebo que onde se via dureza, era a mais pura dedicação; onde se achava ser rigor excessivo, era a necessária disciplina para gerir tanta gente e a escassez que sempre permeou a Educação.

Anos passaram-se, mas quando numa pós-graduação na PUC do Rio de Janeiro perguntaram-me a diferença entre professor e educador a resposta foi imediata: “Doutor Antonio Rocha, lá em União, no Piauí!”.

Por tabela a memória puxa a meiguice de “Dona Irene” que a todos chamava “meu filho...'"

Aderson Neto
Unionense filho do Chico Medeiros e da dona Nazi, é poeta, bancário do BB e professor na sala de aula e na vida.
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