domingo, 31 de janeiro de 2010

Uma relação não muito católica (1)

A relação de Dr. Antonio Rocha com os padres nunca foi, pode-se dizer, muito católica. Na verdade, sempre teve um pé atrás com os padres – ou pelo menos com a maioria deles. Sempre desconfiava de suas boas intenções, vendo na atuação dos sacerdotes muito interesses bem mais terrenos que divinos.

O professor recorria ao próprio Pai Nosso para traduzir o que pensava dos padres:

− É só Venha a Nós. Ao Vosso Reino, nada.

Tinha lá os seus eleitos. Admirava Dom Avelar Brandão Vilela a ponto de forma uma caravana para sua posse como Primaz do Brasil, em 1971. Também sempre se derreteu em elogios ao padre Luís Brasileiro e a dois espanhóis que desembarcaram em União no final dos anos 60: padre Xavier e padre José.

Creio que tinha uma certa predileção pelo padre Xavier, que gostava de fumar e bebê – tal como Dr. Antonio. Xavier também era pouco convencional, a ponto de fazer o percurso entre União e Teresina em meia hora – num Fusca, e num tempo em que a estrada ainda era de piçarra. Coisa de louco, tanto que poucos aceitavam carona com o espanhol voador.

Padre José Gonzalez Alonso não é mais padre. É bispo, à frente da diocese de Cajazeiras, na Paraíba. Mas na memória dos unionenses segue simplesmente “Padre José”, um homem tranqüilo, muito culto e sempre atencioso. “Um sujeito 100%”, no dizer de Antônio Rocha.

Nas contas do professor, no entanto, outros padres simplesmente não contam. Ou, se contam, estão numa conta com resultado negativo. Nessa listam estão Emídio Andrade – que deixou a batina – e Isaac Vilarinho, que chegou a monsenhor.

Neste tópico, vai apenas a história do padre Isaac. No seguinte será a vez do padre Emídio.

PADRE ISAAC:
Quando foi pároco de União, no início dos anos 60, padre Isaac tinha atitude que às vezes gerava atrito com as lideranças locais. Causava especial desconforto o aberto apoio que dava ao movimento dos trabalhadores rurais. Mas isto não afetava Dr. Antonio, tampouco é a razão para as críticas que faz ao depois Monsenhor Isaac Vilarinho.

Tudo está vinculado aos importantes registros históricos que o pároco fez desaparecer. Uns 35 anos depois, os ecos daquela tragédia histórica ainda eram ouvidos. E mantendo o desconforto.

No final da década de 90, um grupo de oeirenses chegou a União. O grupo representava o Instituto Histórico de Oeiras e tinha à frente o desembargador José Luís Martins de Carvalho, que servira em União como juiz e professor do Ginásio Felinto Rego, dirigido pelo professor Antonio Rocha.

Pelo conhecimento minucioso da história do município desde os tempos em que ainda era a fazenda Estanhado, o professor foi chamado pelo prefeito Edmilson Mota para receber o grupo. A intenção dos oeirenses era resgatar informações a respeito de um conterrâneo ilustre, Manoel Clementino de Souza Martins, que havia morrido em terras unionenses, na luta contra os Balaios.

O professor sabia dos detalhes:

A luta contra os balaios aconteceu entre 1838 e 1840. Clementino era sobrinho do então governador da província, Manoel de Souza Martins, o Visconde da Parnaíba. Morreu em combate, no local hoje correspondente ao povoado Santa Rita, município de União. Recebeu ali mesmo as honras militares e o reconhecimento da igreja, sendo sepultado na própria matriz de Nossa Senhora dos Remédios. O templo tinha começado a ser construído alguns anos antes e só ficou totalmente acabado em 1865. As sepulturas tinham sido conservadas durante as obras.

− Gostaríamos de conhecer a sepultura de Clementino – adiantou o desembargador José Luís.

− Infelizmente não vai ser possível – avisou o professor.

Foi quando revelou toda a tragédia patrocinada pelo padre Isaac.

Naquele início dos anos 60, Isaac Valarinho queria reformar a igreja matriz. Conseguiu apoio e dinheiro e passou-se à reforma. E lá estavam umas seis sepulturas, coladas na parede lateral do lado direito da porta de entrada.

O padre não gostava das sepulturas. Alheio à importância daqueles registros históricos, aproveitou a reforma e mandou arrancar tudo, despejando os restos em uma vala do cemitério.

− Pelo menos podemos ver a sepultura no cemitério? − quis saber o desembargador.

Não podiam. Agora, nada mais restava, nem mesmo uma indicação da vala que recebera os restos dos seis antepassados. Os oeirenses fizeram o caminho de volta. Deixaram em União, muito vivas, as críticas do professor contra o padre Isaac e seu “crime contra a história”.

− Padre Isaac foi péssimo, mais do que péssimo com a história de União.

(acima, veja o tópico sobre padre Emídio).

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