domingo, 31 de janeiro de 2010

Uma relação não muito católica (2)

Este tópico é seqüência do do anterior, sobre a difícil relação do Dr. Antonio com os padres, em especial Padre Isaac Vilarinho e Padre Emídio Andrade.

PADRE EMÍDIO:
As desavenças com o padre Emídio Andrade começaram pouco tempo depois do sacerdote chegar a União.

Como fazia sempre, Dr. Antonio convidava o pároco – como também o juiz – para dar aulas no Ginásio Felinto Rego. Era uma forma de assegurar professores de boa formação. Não foi diferente com padre Emídio.

Nas primeiras semanas de aula, no entanto, o padre causou estranheza. Chegou no ginásio de sandália currulepo. Para Dr. Antonio, que exigia aprumo dos alunos, passava um pouco da conta. E reclamou.

Padre Emídio não gostou. Daí em diante, alimentou uma animosidade profunda. Primeiro, tentou arrebatar o posto de diretor do Ginásio, buscando apoio inclusive na cúria diocesana. Não surtiu efeito. Mas o sacerdote não desistiu.

O confronto culminou com uma denúncia formal à Secretaria de Educação do Estado contra o diretor. Entre outras coisas, acusava-o de relapso e de centralizador. Uma verdade e uma mentira. Dr Antonio sempre foi centralizador. Relapso, jamais.

O professor tomou conhecimento da denúncia em uma de suas visitas à Secretaria, quando foi informado por um dos muitos amigos que mantinha por lá. Teve acesso à denúncia, cheia de assinaturas, muitas delas falsificadas – diversos nomes tinham a mesma grafia, indicando que uma mesma pessoa assinara por outras. Mas também havia diversas assinaturas verdadeiras, de pessoas ligadas à igreja e ao padre.

A única assinatura que não constava era a do padre. Mas fora ele mesmo o responsável pela entrega do documento. A denúncia tinha DNA conhecido.

O esforço do padre para tirar Antonio Rocha da diretoria do Felinto Rego não prosperou. Apesar do gênio forte, ela conhecido como bom gestor e, principalmente, como um educador preocupado com a qualidade do ensino. Sabia-se em todo o Piauí: os egressos do colégio estadual de União tinham boa formação e eram adversários duríssimos em qualquer concurso público.

Apesar do empenho do padre, a denúncia foi arquivada. E logo Antonio Rocha teria a chance de dar o troco.

A chance veio nas comemorações dos 10 anos de fundação do Ginásio Felinto Rego, no dia 13 de junho daquele ano de 1967. Havia representantes de outras cidades. E o próprio secretário de educação, padre Baldoíno Barbosa de Deus, prestigiava o evento.


O primeiro toco veio quando, na formação da mesa de honra, o diretor não chamou o padre. O secretário presidia a solenidade e passaria a palavra ao primeiro orador, precisamente o professor Rocha.

O conteúdo do discurso era do conhecimeto de uns poucos. Escrito à mão pelo professor, fora datilografado por José do Egito Vasconcelos, funcionário do Banco do Brasil que se afeiçoara muito ao professor. José do Egito preocupou-se e advertiu ao deputado José Raimundo Bona Medeiros. Este pediu que Dr Antonio maneirasse no tom das críticas.

Não adiantou.

− Zé Raimundo, eu não sou diretor. Eu sou é professor. Se quiserem, podem me tirar da direção – disse, reafirmando a intenção de pronunciar o discurso.

O conteúdo tinha endereço mais que claro. E ele estava bem ali na frente, sentado na platéia, escutando. Em certo trecho da fala, Antonio Rocha dizia:

− Lutamos há 10 anos. Inicialmente, contamos com o apoio dos otimistas. Em seguida, transformamos em aliados os pessimistas. Mas não pudemos, nem devemos, perdoar aqueles que desejaram e continuam hoje a desejar o nosso fracasso. Por não possuírem a coragem para o combate leal, o combate frente a frente, preferem o anonimato, que é o apanágio dos covardes.

Padre Emídio sofreria duas derrotas. Primeiro, viu ali mesmo na solenidade um discurso de Baldoíno Barbosa de Deus que era de claro apoio ao diretor do Ginásio.

− Os meus problemas no Estado são bem maiores que os do Professor Rocha aqui. Mas a obrigação dele, como a minha, é tirar as pedras do caminho e seguir em frente.

Diante daquele desfecho, o padre se viu enfraquecido. Vinte dias depois pediu demissão do Ginásio. Não havia conseguido ser diretor. Então não queria ser professor.
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